São Paulo – No Brasil, muita gente ainda pensa que só parentes e amigos investem em negócios iniciantes. Mas o movimento de investidores anjo começa a ganhar força no país e se organizar. No próximo mês, será lançada oficialmente a Anjos do Brasil, instituição que vai reunir empreendedores e anjos.

“A gente pretende fazer ações para apoiar os investidores e disseminar a cultura do investimento anjo para os empreendedores”, explica o presidente da organização, Cassio Spina.

Foram os anjos, como são chamados os investidores que investem em jovens empresas iniciantes, que ajudaram a consolidar gigantes como Google e Facebook. Quem investiu nessas startups ainda no começo levou uma bolada. Para o especialista, esse movimento só tende a crescer no Brasil e empreendedores e investidores podem ganhar muito com ele. Mas, para que o mercado decole, é preciso que os investidores deixem a ingenuidade de lado e aproveitem as oportunidades que aparecem.

“Eu gosto de deixar claro que você não vai investir no próximo Facebook. Isso é exceção. Mas é possível investir em um negócio muito bom e ter o retorno de até 30 vezes no seu capital”, diz.
Em entrevista a EXAME.com, Spina fala sobre a organização dos anjos, as oportunidades para o novos empreendedores e bons exemplos para startups.

EXAME.com - Como você avalia o cenário de anjos no Brasil, comparando com outros países?

Spina - Há um crescimento muito acentuado. Existem muitos projetos e oportunidades, mas falta investidor. Cada análise demanda muito trabalho e muito tempo e, às vezes, não dá para dar conta das oportunidades. Precisamos de mais investidores. Além disso, não é uma atividade trivial para quem nunca teve experiência em investir em empresas. Sem apoio, as iniciativas se desfazem. Muitos se perderam por isolamento, falta de informação e de apoio.

EXAME.com - Que tipos de negócios têm sido mais buscados? Todo mundo está em busca de um novo Facebook?

Spina - Eu gosto de deixar claro que você não vai investir no próximo Facebook. Isso é exceção. Mas é possível investir em um negócio muito bom e ter o retorno de até 30 vezes no seu capital. Se você investiu 20 mil e consegue 1 milhão no prazo esperado - e isso é fácil de acontecer -, não precisa ser um mega negócio. Vai ter muito trabalho, mas não é impossível. A área digital tem uma atratividade grande e a facilidade de desenvolver uma empresa que depende menos de capital e mais de capacidade intelectual. A gente recebe projetos muito bons de biotecnologia, setor de saúde, agricultura e tecnologia aplicada.

EXAME.com - Como vai funcionar a Anjos do Brasil?

Cassio Spina – O objetivo é fomentar o investimento anjo e incentivar o empreendedorismo de inovação. A gente pretende fazer ações para apoiar os investidores e disseminar esta cultura para os empreendedores. Hoje, poucos conhecem. Nas palestras que participo, só de 10 a 30% sabem o que é. Do lado de potenciais investidores, pouca gente sabe como funciona e quais são os benefícios e riscos.

EXAME.com - Que tipo de ação será feita?

Spina - É uma instituição muito recente e vamos fazer eventos para disseminar o conceito, além de palestras e apresentações para mostrar o que é e contar casos. Também temos uma ferramenta para fazer uma conexão entre empreendedores e investidores.

EXAME.com - Qual o perfil desses investidores?

Spina – Geralmente, é um empreendedor, alguém que já teve ou tem um negócio, ou um executivo que tem carreira positiva e tenha acumulado recursos não só financeiros, mas de tempo. Tem que ter tempo para dedicar à atividade, já que ele precisa agregar algum valor além do financeiro. O interesse começa aos 40 anos e ainda temos uma predominância masculina.

EXAME.com – Qual o exemplo de investimento de sucesso mais forte para você?

Spina – Um case que eu acho interessante é o da Bematech. É uma empresa listada em bolsa, que é o sonho de muitos negócios. Os investidores, que nem se chamavam de anjo, colocaram dinheiro e investiram muito ajudando os empreendedores. É um case emblemático de como o investidor ajudou a sair do protótipo e transformar em um negócio como ele é.