1 Pele à prova de balas tem seda de aranha 22.08.11 13:34
EduardoWenes ツ
Fundador
Um pedaço de pele humana embutida com seda de aranha consegue resistir a disparos com mais de 150 m/s - e, quem sabe, tornar pessoas à prova de balas.
A invenção é uma parceria entre a artista plástica holandesa Jalila Essaidi, de 30 anos, e o Consórcio de Genômica Forense da Holanda. Trata-se, na verdade, de uma matriz de seda na qual células da derme e epiderme podem crescer, criando uma pele misturada com a teia.
“A primeira vez que pensei no projeto foi em 2001, quando li um artigo do professor de biologia molecular Randy Lewis, na revista Science”, disse, à INFO Online, Jalila.
A força da teia das aranhas é um fato conhecido: elas são capazes de capturar objetos em alta velocidade (insetos voando) sem quebrar e constituem a fibra natural mais forte do planeta. Seu uso para reconstruir a pele também é explorado por algumas linhas de pesquisa. “Outros antes de mim já imaginaram como usar a seda de aranha para coletes à prova de bala, mas eu pensei: por que não levar isso além e aplicar a seda diretamente à pele?”, conta a artista.
A ideia, aparentemente absurda, foi colocada em prática quando Jalila ouviu falar do Prêmio Designers and Artists 4 Genomics (DA4GA), uma iniciativa da que dá a artistas a possibilidade de trabalhar em colaboração com os melhores centros de genética da Holanda. “Antes de submeter a ideia, entrei em contato com o próprio Randy Lewis e perguntei qual era a sua opinião”, diz. Como a resposta do cientista foi positiva, ela se inscreveu, foi aprovada, e passou a trabalhar com os cientistas do consórcio.
O projeto foi batizado de “2.6g 329m/s” – o peso e velocidade da bala que deveria ser barrada pela pele com seda de aranha. Para criar esse tecido, os cientistas criaram uma moldura de teia de aranha e colocaram nela células das duas camadas da pele: derme e epiderme. A estrutura foi criada em uma incubadora, um ambiente controlado, a 37o C e uma atmosfera de 7% CO2 e 99% de umidade. Em cinco semanas, havia 15 cm e diâmetro criados.
O passo seguinte era testar a resistência da pele. No Instituto Forense da Holanda, os técnicos em balística atiraram em pedaços de pele normal e pele artificial (tanto a criada com seda comum como a criada com seda de aranha), registrando tudo com câmeras. Com a velocidade da bala reduzida em 50%, todas as peles foram perfuradas – menos a com seda de aranha.
Embora o tecido não tenha suportado os 329 m/s normais da bala, o resultado é muito animador: um colete à prova de balas normal consiste de 30 camadas de kevlar, mas a pele testada possuía apenas 4 camadas de seda de aranha. “Queremos agora testar com mais camadas, e ver o que acontece”, diz Jalila. Atualmente, um pedaço da pele de seda está em exibição no museu Naturalis.
Outro futuro teste da pele é bem mais ambicioso: ela será implantada em uma pessoa. Greet Verbeke, diretor do museu da Fundação Verbeke, na Bélgica, se voluntariou para ter um pedaço da “obra de arte” colocada em si. O procedimento, é claro, vai ser acompanhado por médicos. Por enquanto, há muitos riscos de rejeição e nenhuma garantia de que funcione – mas é um primeiro passo.